Praça Castro Alves
UM FREVO NOVO
Caetano Veloso
A praça Castro Alves é do povo
Como o céu é do avião
Um frevo novo,
um frevo novo,
um frevo novo
Todo mundo na praça,
manda a gente sem graça pro salão
A praça Castro Alves é do povo
Como o céu é do avião
Um frevo novo,
um frevo novo,
um frevo novo
Todo mundo na praça,
manda a gente sem graça pro salão
Mete o cotovelo
e vai abrindo caminho
Pega no meu cabelo
pra não se perder
e terminar sozinho
O tempo passa,
mas na raça eu chego lá
É aqui nesta praça
Que tudo vai ter que pintar
A praça Castro Alves é do povo
Como o céu é do avião
Um frevo novo,
um frevo novo,
um frevo novo
Todo mundo na praça,
manda a gente sem graça pro salão
Mete o cotovelo
e vai abrindo caminho
Pega no meu cabelo
pra não se perder
e terminar sozinho
O tempo passa,
mas na raça eu chego lá
É aqui nesta praça
Que tudo vai ter que pintar
Um comentário sobre esta música feito por Pasquale para o jornal " O Povo" de Recife.
"Uma dessas maravilhas é ''Um Frevo Novo'', composta (há mais de trinta anos) por Caetano Veloso. ''A praça Castro Alves é do povo / Como o céu é do avião'', dizem os primeiros versos da letra, que, exaltando o verdadeiro caráter da festa, ''manda essa gente sem graça pro salão''.
O inspirado texto de Caetano começa com uma referência a alguns versos de ''O Povo ao Poder'', célebre poema do imortal escritor baiano Castro Alves: ''A praça! A praça é do povo / Como o céu é do condor''. Na letra de Caetano, em que não por acaso a praça é justamente a soteropolitana Castro Alves - que fica no centro da cidade e é palco ou ponto de partida de inúmeras manifestações cívicas, artísticas etc. -, o condor (não leia ''côndor'', pelo amor de Deus!) é adaptado aos ''tempos modernos'' e cede seu lugar ao avião (''A praça Castro Alves é do povo / Como o céu é do avião''). "
O POVO AO PODER
Castro Alves
Quando nas praças s'eleva
Do Povo a sublime voz...
Um raio ilumina a treva
O Cristo assombra o algoz...
Que o gigante da calçada
De pé sobre a barrica
Desgrenhado, enorme, nu
Em Roma é catão ou Mário,
É Jesus sobre o Cálvario,
É Garibaldi ou Kosshut.
A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor
É o antro onde a liberdade
Cria águias em seu calor!
Senhor!... pois quereis a praça?
Desgraçada a populaça
Só tem a rua seu...
Ninguém vos rouba os castelos
Tendes palácios tão belos...
Deixai a terra ao Anteu.
Na tortura, na fogueira...
Nas tocas da inquisição
Chiava o ferro na carne
Porém gritava a aflição.
Pois bem...nest'hora poluta
Nós bebemos a cicuta
Sufocados no estertor;
Deixai-nos soltar um grito
Que topando no infinito
Talvez desperte o Senhor.
A palavra! Vós roubais-la
Aos lábios da multidão
Dizeis, senhores, à lava
Que não rompa do vulcão.
Mas qu'infâmia! Ai, velha Roma,
Ai cidade de Vendoma,
Ai mundos de cem heróis,
Dizei, cidades de pedra,
Onde a liberdade medra
Do porvir aos arrebóis.
Dizei, quando a voz dos Gracos
Tapou a destra da lei?
Onde a toga tribunícia
Foi calcada aos pés do rei?
Fala, soberba Inglaterra,
Do sul ao teu pobre irmão;
Dos teus tribunos que é feito?
Tu guarda-os no largo peito
Não no lodo da prisão.
No entanto em sombras tremendas
Descansa extinta a nação
Fria e treda como o morto.
E vós, que sentis-lhes os pulso
Apenas tremer convulso
Nas extremas contorções...
Não deixais que o filho louco
Grite "oh! Mãe, descansa um pouco
Sobre os nossos corações".
Mas embalde... Que o direito
Não é pasto de punhal.
Nem a patas de cavalos
Se faz um crime legal...
Ah! Não há muitos setembros,
Da plebe doem os membros
No chicote do poder,
E o momento é malfadado
Quando o povo ensangüentado
Diz: já não posso sofrer.
Pois bem! Nós que caminhamos
Do futuro para a luz,
Nós que o Calvário escalamos
Levando nos ombros a cruz,
Que do presente no escuro
Só temos fé no futuro,
Como alvorada do bem,
Como Laocoonte esmagado
Morreremos coroado
Erguendo os olhos além.
Irmão da terra da América,
Filhos do solo da cruz,
Erguei as frontes altivas,
Bebei torrentes de luz...
Ai! Soberba populaça,
Dos nossos velhos Catões,
Lançai um protesto, ó povo,
Protesto que o mundo novo
Manda aos tronos e às nações.
Recife, 1864