terça-feira, março 09, 2010

Dia Internacional da Mulher











Rose Marie Muraro (Rio de Janeiro, 11 de novembro de 1930) é uma intelectual e feminista brasileira. Nasceu praticamente cega, sua personalidade singular deu-lhe força e determinação suficientes para tornar-se uma das mais brilhantes intelectuais de nosso tempo.

Estudou Física, esta escritora e editora publicou diversos livros polêmicos, contestadores e inovadores do ponto de vista dos valores sociais modernos. Nos anos 70, foi uma das pioneiras do movimento feminista no Brasil. Nos anos 80, quando a Igreja adotou uma postura mais conservadora, passou a ser perseguida por seus ideais. Sua atuação intensa no mercado editorial é fruto de uma mente libertária cuja visão atenta da sociedade pode ser comparada a de muito poucos intelectuais da atualidade.

Suas idéias refletem-se na vida pessoal desta mulher notável; há pouco tempo, Rose Marie Muraro desafiou seus próprios limites quando, aos 66 anos, recuperou a visão com uma cirurgia e viu seu rosto pela primeira vez. "Sei hoje que sou uma mulher muito bonita."

[editar]Biografia

Oriunda duma das mais ricas famílias do Brasil nos anos 1930/40, aos 15 anos, com a morte repentina do pai e conseqüentes lutas pela herança, rejeitou sua origem e dedicou o resto de sua vida à construção de um novo mundo: mais justo, mais livre. Nesse mesmo ano conheceu o então padre Helder Câmara e se tornou membro da sua equipe. Os movimentos sociais criados por ele nos anos 40 tomaram o Brasil inteiro na década seguinte. Nos anos 60, o golpe militar teve como alvo não só os comunistas, mas também os cristãos de esquerda.

A editora Vozes é um capítulo à parte na vida de Rose. Lá, trabalhou com Leonardo Boff durante 17 anos e das mãos de ambos nasceram os dois movimentos sociais mais importantes do Brasil, no século XX: o movimento de emancipação das mulheres e a teologia da libertação - até hoje, base da luta dos oprimidos. Nos anos 80, presenciou a virada conservadora da Igreja. E em 1986, Rose e Boff foram expulsos da Vozes, por ordem do Vaticano. Motivo: a defesa da teologia da libertação, no caso de Boff e a publicação, por Rose, de seu livro Por uma erótica cristã.

Rose Marie Muraro foi eleita, por nove vezes, A Mulher do Ano. Em 1990 e 1999, recebeu, da revista Desfile, o título de Mulher do Século. E da União Brasileira de Escritores, o de Intelectual do Ano, em 1994. O trabalho de Rose, como editora, foi um marco na história da resistência ao regime militar. Por conta dele, recebeu, recentemente, do Senado Federal, o prêmio Teotônio Vilela, em comemoração aos 20 anos da anistia no Brasil.

Foi palestrante nas universidades de Harvard e Cornell, entre tantas outras instituições de ensino americanas, num total de 40. Editou até o ano 2000 o selo Rosa dos Tempos, da Record.

É cidadã honorária de Brasília (2001) e de São Paulo (2004). Ganhou o Prêmio Bertha Lutz (2008), e principalmente, pela Lei 11.261 de 30/12/2005 passada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Presidente da república, foi nomeada Patrona do Feminismo Brasileiro.

Rose Marie Muraro tem 5 filhos e 12 netos, frutos de um casamento de 23 anos.

[editar]Bibliografia

    • EDUCANDO MENINOS E MENINAS PARA UM MUNDO NOVO (2007)
    • HISTORIA DO MASCULINO E DO FEMININO (2007)
    • UMA NOVA VISAO DA POLITICA E DA ECONOMIA (2007)
    • HISTORIA DO MEIO AMBIENTE (2007)
    • PARA ONDE VAO OS JOVENS (2007)
    • A MULHER NA CONSTRUÇAO DO FUTURO (2007)
    • O QUE AS MULHERES NAO DIZEM AOS HOMENS (2006)
    • DIALOGO PARA O FUTURO (2006)
    • MAIS LUCRO (2006)
    • ESPIRITO DE DEUS PAIROU SOBRE AS AGUAS (2004)
    • POR QUE NADA SATISFAZ AS MULHERES E OS HOMENS NAO (2003)
    • UM MUNDO NOVO EM GESTAÇÃO (2003)
    • AMOR DE A A Z (2003)
    • A PAIXAO PELO IMPOSSIVEL (2003)
    • FEMININO E MASCULINO (2002)
    • AS MAIS BELAS ORAÇOES DE TODOS OS TEMPOS (2001)
    • TEXTOS DA FOGUEIRA (2000)
    • A ALQUIMIA DA JUVENTUDE (1999)
    • MEMORIAS DE UMA MULHER IMPOSSIVEL (1999)
    • AS MAIS BELAS PALAVRAS DE AMOR (1996)
    • SEXUALIDADE DA MULHER BRASILEIRA (1996)
    • SEIS MESES EM QUE FUI HOMEM (1993)
    • A MULHER NO TERCEIRO MILENIO (1993)
    • POEMAS PARA ENCONTRAR DEUS (1990)

    • Entrevista sobre a beleza feminina com a historiadora Mary Del Priore para a Revista Época



      Mary Del Priore - historiadora e autora de Corpo a Corpo com aMulher: Pequena História da Transformação do Corpo Feminino

      ÉPOCA - Por que a beleza é tão importante em nossa cultura?


      Mary Del Priore -
      Vivemos numa sociedade de imagens, que corporificam mulheres magras, jovens e sem rugas, modelo atrás do qual todas correm. Mas é um tipo de beleza que não tem a ver com nossa cultura. A mistura de raças que há no Brasil resulta numa mulher curvilínea. Aquilo que chamamos de morenidade da mulher brasileira desapareceu para da espaços às figuras esguias, loiras e de seios grandes, enquanto a brasileira é mais baixa, tem seios pequenos. Isso é grave, pois temos um país com minorias negras muito grandes. Esse modelo perverso deixa a auto-estima de muitas meninas e mulheres fragilizada. Estamos sacrificando nossa identidade física.

      ÉPOCA - Como era no passado?
      Mary -
      A beleza era vista como um conjunto de qualidades, e não um estereótipo. Uma mulher bonita era elegante, educada, ingênua, às vezes até pudica, que tinha um olhar expressivo. Os critérios de escolha de uma mulher eram outros e a chamada beleza interior era importante. Nos anos 50, era valorizado ter o que se chamava de “it”, um charme. Não havia uma exigência de um padrão único de beleza e até os anos 70 havia infinitas possibilidades de ser bela. Desde as revistas femininas, que datam da segunda metade do século 19, havia preocupação com a beleza, com as vestes, os cosméticos. Até os anos 50, a mulher deveria ser bela na rua e também em casa. Ela tinha sempre de estar apresentável. Mas não havia uma retórica sobre o tipo físico que ela deveria ter.

      ÉPOCA - As mulheres eram mais cobradas em relação à beleza que os homens?
      Mary -
      Sim. A sociedade patriarcal sempre esperou deles um comportamento viril, mas os homens também tinham preocupação com o físico. Eles seguiam modas de bigodes e barbas, tinham cuidados com a aparência.

      ÉPOCA - Os meios de comunicação de massa aumentaram a preocupação com tipo físico ideal?
      Mary -
      Sim, aumentaram a obsessão pela magreza. Até o século passado, as magras eram vistas como feias e doentes; algumas eram consideradas más. A magreza era até um sinal de ambição desmesurada. A partir dos anos 70, com o aparecimento das academias, a magreza passou a ser sinal de saúde, e de condição econômica também. O rico brasileiro é magro, enquanto o pobre é cada vez mais obeso. Na sociedade de consumo, em que vivemos atualmente, a beleza se tornou um produto, enquanto no passado era uma característica. Isso é péssimo. Hoje a mulher feia e pobre sofre muito por causa da aparência. O Brasil, até nas classes desfavorecidas, apresenta um altíssimo consumo de cosméticos, pois todos acham que a beleza pode ser comprada.


      Mary Del Priore

      Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

      Mary Del Priore
      Nome completoMary Lucy Murray Del Priore
      Nascimento1952 (57–58 anos)
      NacionalidadeBrasil Brasil
      OcupaçãoProfessora
      CargoProfessora da USP
      Página oficial:Curriculum Lattes

      Mary Lucy Murray Del Priore (Rio de Janeiro, 1952) é uma historiadora eprofessora brasileira.

      Graduou-se em História na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Fezdoutorado em História Social pela Universidade de São Paulo, especialização (1993) e pós-doutorado (1996) na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, na França [1]. Foi professora de História do Brasil Colonial nos departamentos de História da Universidade de São Paulo e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

      É colaboradora em revistas nacionais e internacionais, e publica crônicas no jornalO Estado de S. Paulo. Escreveu, organizou ou colaborou em mais de 40 livros. Foi duas vezes vencedora do Prêmio Casa Grande & Senzala, outorgado pela Fundação Joaquim Nabuco, por História das Mulheres no Brasil (1997), em 1998, e História das Crianças no Brasil (1999) , em 2000. Com História das Mulheres no Brasil ganhou o Prêmio Jabuti em 1998, na categoria Ciências Humanas. Publicou ainda A Mulher no Brasil Colônia (2000), Histórias do Cotidiano (2001), A História do Amor no Brasil (2005) e O Príncipe Maldito (2007), que conta a história de um descendente da família imperial brasileira, entre muitos outros.

      Em 2008 atuou como pesquisadora da Universidade de São Paulo e lecionou na Universidade Salgado de Oliveira, em Niterói, onde desenvolveu pesquisa sobre o Rio de Janeiro.

      Índice

      [esconder]

      [editar]Prêmios

      • 2000 Prêmio Casa Grande e Senzala por História das Crianças no Brasil, Fundação Joaquim Nabuco.
      • 1998 Prêmio Jabuti na categoria Ciências Humanas por História das Mulheres no Brasil (organizadora), Jabuti.
      • 1998 Prêmio Manoel Bonfim por História da Vida Privada no Brasil (co-autoura), Governo do Distrito Federal.
      • 1998 Prêmio Casa Grande e Senzala para o livro História das Mulheres no Brasil, Fundação Joaquim Nabuco.
      • 1998 Prêmio Personalidade Cultural do Ano da Academia Brasileira de Letras.
      • 1992 Prêmio do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Governo da França e da Organização dos Estados Americanos - OEA para as Américas.

      [editar]Bibliografia

      (parcial)

      • PRIORE, M. L. M. . O príncipe maldito. 1. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. 296 p.
      • PRIORE, M. L. M. . Uma história da vida rural no Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
      • PRIORE, M. L. M. . História do amor no Brasil. I. ed. São Paulo: Contexto, 2005. v. I. 336 p.
      • PRIORE, M. L. M. . O mal sobre a terra o terremoto de Lisboa de 1755. Rio de Janeiro: Topbooks, 2003. v. 1.
      • PRIORE, M. L. M. . História das crianças no Brasil. 1. ed. São Paulo: Contexto, 1999. v. 1.
      • PRIORE, M. L. M. . História das mulheres no Brasil. 1. ed. São Paulo: Contexto, 1997. 680 p.

      Referências

      [editar]Ligações externas

      • Curriculum Lattes
      • Entevista com a historiadora Mary Del Priore na revista Época
      • entrevista de Carla Jordão na revista Isto É de 10 de março de 2010

        http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/54698_O+ESPELHO+E+A+NOVA+SUBMISSAO+FEMININA+?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage


        Mary Del Priore

        "O espelho é a nova submissão feminina"

        Na semana do Dia Internacional da Mulher, a historiadora afirma que as brasileiras são apáticas, machistas e escravas da ditadura da beleza

        Claudia Jordão

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        MULHERES NA POLÍTICA
        “Elas roubam igual, mentem igual, fingem igual. São tão cínicas quanto nossos políticos”, diz

        Em 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de Nova York declararam guerra aos patrõe s. Elas exigiam trabalhar dez horas por dia, em vez de 16, e ganhar mais do que apenas um terço do salário dos colegas do sexo masculino. Como resposta, foram trancadas no imóvel, incendiado em seguida. Resultado: 130 delas mor reram. Em 1975, a Organização das Nações Unidas (ONU) fez da data o Dia Internacional da Mulher. Trata-se de uma homenagem a essas que foram as primeiras mártires da luta feminista, movimento que ganhou força nos anos 1960 e 1970 nos Estados Unidos e na Europa e que mudaria a vida das brasileiras a partir da década de 80.

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        "A executiva não deu certo. Ela hipoteca sua vida familiar ou sacrifica seu prazer.
        Depressão e isolamento se combinam num coquetel regado a botox"

        Desde então, uma grande parcela da população feminina foi absorvida pelo mercado de trabalho, conquistou liberdade sexual e hoje, cada vez mais, se destaca na iniciativa privada, na política e nas artes – mesmo que a total igualdade de direitos entre os sexos ainda seja um sonho distante. Mas, para a historiadora Mary Del Priore, uma das maiores especialistas em questões femininas, apesar de todas as inegáveis conquistas, as mulheres não se saíram vitoriosas. Autora de 25 livros, inclusive “História das Mulheres no Brasil”. Mary, 57 anos, diz que a revolução feminista do século XX também trouxe armadilhas.

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        "A primeira-dama (Marisa Letícia), hábil em fazer malas e sorrir, limita-se a
        guardar as portas do presidente, sem estimular nenhum exemplo"

        ISTOÉ -

        Neste 8 de março, há motivos para festejar?

        MARY DEL PRIORE -

        Não tenho nenhuma vontade. O diagnóstico das revoluções femininas do século XX é ambíguo. Ele aponta para conquistas, mas também para armadilhas. No campo da aparência, da sexualidade, do trabalho e da família houve benefícios, mas também frustrações. A tirania da perfeição física empurrou a mulher não para a busca de uma identidade, mas de uma identificação. Ela precisa se identificar com o que vê na mídia. A revolução sexual eclipsou-se diante dos riscos da Aids. A profissionalização, se trouxe independência, também acarretou stress, fadiga e exaustão. A desestruturação familiar onerou os dependentes mais indefesos, os filhos.

        ISTOÉ -

        Por que é tão difícil sobreviver a essas conquistas?

        MARY DEL PRIORE -

        Ocupando cada vez mais postos de trabalho, a mulher se vê na obrigação de buscar o equilíbrio entre o público e o privado. A tarefa não é fácil. O modelo que lhe foi oferecido era o masculino. Mas a executiva de saias não deu certo. São inúmeros os sacrifícios e as dificuldades da mulher quando ela concilia seus papéis familiares e profissionais. Ela é obrigada a utilizar estratégias complicadas para dar conta do que os sociólogos chamam de “dobradinha infernal”. A carga mental, o trabalho doméstico e a educação dos filhos são mais pesados para ela do que para ele. Ao investir na carreira, ela hipoteca sua vida familiar ou sacrifica seu tempo livre para o prazer. Depressão e isolamento se combinam num coquetel regado a botox.

        ISTOÉ -

        A mulher também gasta muita energia em cuidados com a aparência. Por que tanta neurose?

        MARY DEL PRIORE -

        No decorrer deste século, a brasileira se despiu. O nu, na tevê, nas revistas e nas praias incentivou o corpo a se desvelar em público. A solução foi cobri-lo de creme, colágeno e silicone. O corpo se tornou fonte inesgotável de ansiedade e frustração. Diferentemente de nossas avós, não nos preocupamos mais em salvar nossas almas, mas em salvar nossos corpos da rejeição social. Nosso tormento não é o fogo do inferno, mas a balança e o espelho. É uma nova forma de submissão feminina. Não em relação aos pais, irmãos, maridos ou chefes, mas à mídia. Não vemos mulheres liberadas se submeterem a regimes drásticos para caber no tamanho 38? Não as vemos se desfigurar com as sucessivas cirurgias plásticas, se negando a envelhecer com serenidade? Se as mulheres orientais ficam trancadas em haréns, as ocidentais têm outra prisão: a imagem.

        ISTOÉ -

        Na Inglaterra, mulheres se engajam em movimentos que condenam a ditadura do rosa em roupas e brinquedos de meninas. Por que isso não ocorre aqui?

        MARY DEL PRIORE -

        Sem dúvida, elas estão à frente de nós. Esse tipo de preocupação está enraizado na cultura inglesa. Mas aproveito o mote para falar mal da Barbie. Trata-se de impor um estilo de vida cor-de-rosa a uma geração de meninas. Seus saltos altos martelam a necessidade de opulência, de despesas desnecessárias, sugerindo a exclusão feminina do trabalho produtivo e a dependência financeira do homem. Falo mal da Barbie para lembrar mães, educadoras e psicólogas que somos responsáveis pela construção da subjetividade de nossas meninas.

        ISTOÉ -

        O que a sra. pensa das brasileiras na política?

        MARY DEL PRIORE -

        Elas roubam igual, gastam cartão corporativo igual, mentem igual, fingem igual. Enfim, são tão cínicas quanto nossos políticos. Mensalões, mensalinhos, dossiês de todo tipo, falcatruas de todos os tamanhos, elas estão em todos!

        ISTOÉ -

        Temos duas candidatas à Presidência. A sra. acredita que, se eleitas, ajudarão na melhoria das questões relativas à mulher no Brasil?

        MARY DEL PRIORE -

        Pois é, este ano teremos Marina Silva e Dilma Rousseff. Seria a realização do sonho das feministas dos anos 70 e 80. Porém, passados 30 anos, Brasília se transformou num imenso esgoto. Por isso, se uma delas for eleita, saberemos menos sobre “o que é ter uma mulher na Presidência” e mais sobre “como se fazem presidentes”: com aparelhamento e uso da máquina do Estado, acordos e propinas.

        ISTOÉ -

        Pesquisa Datafolha divulgada no dia 28 de fevereiro apontou que a ministra Dilma é mais aceita pelos homens (32%) do que pelas mulheres (24%). Qual sua avaliação?

        MARY DEL PRIORE -

        Estamos vivendo um ciclo virtuoso para a economia brasileira. Milhares saíram da pobreza, a classe média se robusteceu, o comércio está aquecido e o consumo de bens e serviços cresce. Sabe-se que esse processo teve início no governo FHC. Para desespero dos radicais, o governo Lula persistiu numa agenda liberal de sucesso. Os eleitores do sexo masculino não estarão votando numa mulher, numa feminista ou numa plataforma em que os valores femininos estejam em alta, mas na permanência de um programa econômico. Neste jogo, ser ou não ser Dilma dá no mesmo. No Brasil, o voto não tem razões ideológicas, mas práticas.

        ISTOÉ -

        Ou seja, o sexo do candidato não faz a menor diferença?

        MARY DEL PRIORE -

        O governo criou um ministério das mulheres (a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres) que não disse a que veio. A primeira-dama (Marisa Letícia), hábil em fazer malas e sorrir para o marido e para as câmaras, se limita a guardar as portas do escritório do presidente, sem estimular nenhum exemplo. O papel de primeira-dama é mais importante do que parece. É bom lembrar que, embora elas não tenham status particular, representam um país. Daí poderem desenvolver um papel à altura de seus projetos pessoais e sua personalidade. A francesa Danielle Mitterrand, que apoiou movimentos de esquerda em todo o mundo e nunca escondeu suas opiniões políticas, ou Hillary Clinton, pioneira em ter uma sala na Casa Branca, comportando-se como embaixatriz dos EUA, são exemplos de mulheres que foram além da “cara de paisagem”.

        ISTOÉ -

        Por que as políticas brasileiras não têm agenda voltada para as mulheres?

        MARY DEL PRIORE -

        Acho que tem a ver com a falta de educação da mulher brasileira de gerações atrás e isso se reflete até hoje. Tem um pouco a ver com o fato de o feminismo também não ter pego no Brasil.

        ISTOÉ -

        Por que o feminismo não pegou no Brasil?

        MARY DEL PRIORE -

        Apesar das conquistas na vida pública e privada, as mulheres continuam marcadas por formas arcaicas de pensar. E é em casa que elas alimentam o machismo, quando as mães protegem os filhos que agridem mulheres e não os deixam lavar a louça ou arrumar o quarto. Há mulheres, ainda, que cultivam o mito da virilidade. Gostam de se mostrar frágeis e serem chamadas de chuchuzinho ou gostosona, tudo o que seja convite a comer. Há uma desvalorização grosseira das conquistas das mulheres, por elas mesmas. Esse comportamento contribui para um grande fosso entre os sexos, mostrando que o machismo está enraizado. E que é provavelmente em casa que jovens como os alunos da Uniban aprenderam a “jogar a primeira pedra” (na aluna Geisy Arruda).

        ISTOÉ -

        O que nos torna tão desconectadas?

        MARY DEL PRIORE -

        As mulheres brasileiras estão adormecidas. Falta-lhes uma agenda que as arranque da apatia. O problema é que a vida está cada vez mais difícil. Trabalha-se muito, ganha-se pouco, peleja-se contra os cabelos brancos e as rugas, enfrentam-se problemas com filhos ou com netos. Esgrima-se contra a solidão, a depressão, as dores físicas e espirituais. A guerreira de outrora hoje vive uma luta miúda e cansativa: a da sobrevivência. Vai longe o tempo em que as mulheres desciam às ruas. Hoje, chega a doer imaginar que a maior parte de nós passa o tempo lutando contra a balança, nas academias.

        ISTOÉ -

        Há saída para a condição da mulher de hoje?

        MARY DEL PRIORE -

        Em países onde tais questões foram discutidas, a resposta veio como proposta para o século XXI: uma nova ética para a mulher, baseada em valores absolutamente femininos. De Mary Wollstonecraft, no século XVIII, a Simone de Beau­voir, nos anos 50, o objetivo do feminismo foi provar que as mulheres são como homens e devem se beneficiar de direitos iguais. Todavia, no final deste milênio, inúmeras vozes se levantaram para denunciar o conteúdo abstrato e falso dessas ideias, que nunca levaram em conta as diferenças concretas entre os sexos. Para lutar contra a subordinação feminina, essa nova ética considera que não se devem adotar os valores masculinos para se parecer com os homens. Mas que, ao contrário, deve-se repensar e valorizar os interesses e as virtudes feminina s. Equilibrar o público e o privado, a liberdade individual, controlar o hedonismo e os desejos, contornar o vazio da pós-modernidade, evitar o cinismo e a ironia diante da vida política. Enfim, as mulheres têm uma agenda complexa. Mas, se não for cumprida, seguiremos apenas modernas. Sem, de fato, entrar na modernidade.

        ISTOÉ -

        O que as mulheres do século XXI devem almejar?

        MARY DEL PRIORE -

        O de sempre: a felicidade. Só com educação e consciência seremos capazes de nos compreender e de definir nossa identidade.




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