Cientista Carlos Nobre do INPE
Desenvolver a Amazônia sem Desmatar.
“A Invenção de uma Nova Economia” - Entrevista ao Portal “Planeta Sustentável”
qua, 12/11/08por Carlos Nobre |categoria 1
ENTREVISTA AO “PLANETA SUSTENTÁVEL” (http://planetasustentavel.abril.com.br/) PUBLICADO NAS REVISTAS DO GRUPO ABRIL EM NOVEMBRO DE 2008 (POR EXEMPLO, NA REVISTA VEJA, EDIÇÃO 2086 – ANO 41 – Nº 45 – PÁG. 122-123, 12 DE NOVEMBRO DE 2008)
A invenção de uma nova economia
O Pesquisador Carlos Nobre, estudioso dos assuntos amazônicos, vê na floresta o ponto de partida para a arrancada rumo ao desenvolvimento brasileiro. Conselheiro do movimento Planeta Sustentável, Nobre é também um dos 500 cientistas de vários países que participam das reuniões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão das Nações Unidas que elabora e divulga os relatórios sobre as mudanças climáticas.
Planeta Sustentável – O Sr. acredita que o Brasil tem tudo para passar para o rol dos países desenvolvidos. Qual é o caminho?
Carlos Nobre – Não há dúvidas de que o Brasil é uma potência ambiental por ser abundante em terra, água, sol e biodiversidade. Esses são os ingredientes que temos que utilizar para alavancar o que chamo de desenvolvimento tropical.
P.S. – Esse tipo de desenvolvimento já existe em algum país?
C.N. - Não, ele tem que ser inventado e deve ter uma combinação da riqueza que nós temos em recursos humanos com a riqueza dos nossos recursos naturais. É um modelo de desenvolvimento que explore ao máximo essa combinação de biodiversidade, terra, sol, água com um sistema educacional que no Brasil – pelos menos no extrato superior de pós-graduação – já atingiu um nível de sofisticação como poucos países em desenvolvimento
P.S. - Como ele pode ser implantado?
C.N. - É fundamental descobrir e associar mais valor aos produtos naturais que temos. Um país tropical desenvolvido é industrial. Temos que encontrar um nicho de industrialização feito a partir dos nossos recursos naturais.
P.S. - Então a Amazônia pode ser o caminho mais curto para se atingir o desenvolvimento tropical?
C.N. - Claro. Apesar de sua riqueza natural, o valor econômico da região amazônica é pouquíssimo explorado. O modelo de desenvolvimento deve basear-se fundamentalmente na exploração econômica e sustentável da biodiversidade da floresta.
P.S. - Por onde começou?
C.N. - Industrializando e globalizando os produtos amazônicos. O Brasil tem uma área plantada de soja quase 3 vezes maior que a da Argentina, mas nosso vizinho obtém o mesmo lucro nas exportações porque exporta o óleo e soja e nós apenas os grãos. Se continuarmos a ser apenas grandes plantadores de cana, produtores de soja ou exploradores de minério de ferro para exportar tudo isso in natura não chegaremos lá.
P.S. - O sr. propõe globalizar a Amazônia?
C.N. - O que proponho é a necessidade de implementar o que eu chamo de globalização dos produtos da biodiversidade da nossa floresta. Já temos hoje alguns deles como o açaí, cupuaçu e a castanha-do-brasil, mas há muito mais. Produtos com grande potencial para serem globalizados são toda a fruticultura nativa, todos os óleos e uma série de fitoterápicos. Sem contar que podem existir, nessa rica biodiversidade, fármacos ainda não descobertos que levem à cura de muitas doenças.
P.S. - Nesse caso, seria preciso proteger a Amazônia do desmatamento.
C.N. - É preciso proteger a Amazônia por tudo que ela tem de potencial. A globalização seria também uma base para a geração de empregos para população rural da floresta. É um outro modelo econômico que não esteja baseado única e exclusivamente na pecuária e na soja.
P.S. - Mas a distância não pode inviabilizar esse desenvolvimento?
C.N. - Realmente as distâncias são muito grandes em relação aos mercados consumidores, por isso é necessário agregar valor aos produtos para que eles sejam rentáveis. É preciso ter indústrias locais nas pequenas e médias cidades amazônicas que processem os produtos da biodiversidade. Assim consegue-se gerar bons empregos e renda às populações rurais.
P.S. - Como fazer isso?
C.N. - Temos uma comunidade tecnológica e científica sofisticada. É preciso usar essas potencialidades para, a partir de nossa vantagem comparativa em relação aos recursos naturais, alavancar o desenvolvimento do país. Recentemente, a Academia Brasileira de Ciências propôs a criação das universidades da floresta e institutos de tecnologia da Amazônia que estabeleçam uma revolução científica e tecnológica na região para criar os recursos humanos e as soluções sustentáveis.
P.S. - O Sr. acredita que o empresário brasileiro tem essa mesma visão?
C.N. - Sim, temos empresários modernos, audaciosos e inovadores em muitas regiões do Brasil. Eles podem enxergar o Brasil como país tropical e entender como vantagem comparativa a sua riqueza natural – não só os minérios, mas também os recursos renováveis – para explorar ao máximo esse potencial de forma sustentável.
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Carlos Nobre, engenheiro eletrônico pelo ITA, doutor em meteorologia pelo MIT com pós-doutoramento na Universidade de Maryland, EUA, é pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Foi um dos arquitetos do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA) e diretor do CPTEC/INPE de 1991 a 2003. Tem dedicado sua carreira científica à Amazônia e desenvolveu pesquisas pioneiras sobre os impactos climáticos do desmatamento.
“A Invenção de uma Nova Economia” - Entrevista ao Portal “Planeta Sustentável”
qua, 12/11/08por Carlos Nobre |categoria 1
ENTREVISTA AO “PLANETA SUSTENTÁVEL” (http://planetasustentavel.abril.com.br/) PUBLICADO NAS REVISTAS DO GRUPO ABRIL EM NOVEMBRO DE 2008 (POR EXEMPLO, NA REVISTA VEJA, EDIÇÃO 2086 – ANO 41 – Nº 45 – PÁG. 122-123, 12 DE NOVEMBRO DE 2008)
A invenção de uma nova economia
O Pesquisador Carlos Nobre, estudioso dos assuntos amazônicos, vê na floresta o ponto de partida para a arrancada rumo ao desenvolvimento brasileiro. Conselheiro do movimento Planeta Sustentável, Nobre é também um dos 500 cientistas de vários países que participam das reuniões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão das Nações Unidas que elabora e divulga os relatórios sobre as mudanças climáticas.
Planeta Sustentável – O Sr. acredita que o Brasil tem tudo para passar para o rol dos países desenvolvidos. Qual é o caminho?
Carlos Nobre – Não há dúvidas de que o Brasil é uma potência ambiental por ser abundante em terra, água, sol e biodiversidade. Esses são os ingredientes que temos que utilizar para alavancar o que chamo de desenvolvimento tropical.
P.S. – Esse tipo de desenvolvimento já existe em algum país?
C.N. - Não, ele tem que ser inventado e deve ter uma combinação da riqueza que nós temos em recursos humanos com a riqueza dos nossos recursos naturais. É um modelo de desenvolvimento que explore ao máximo essa combinação de biodiversidade, terra, sol, água com um sistema educacional que no Brasil – pelos menos no extrato superior de pós-graduação – já atingiu um nível de sofisticação como poucos países em desenvolvimento
P.S. - Como ele pode ser implantado?
C.N. - É fundamental descobrir e associar mais valor aos produtos naturais que temos. Um país tropical desenvolvido é industrial. Temos que encontrar um nicho de industrialização feito a partir dos nossos recursos naturais.
P.S. - Então a Amazônia pode ser o caminho mais curto para se atingir o desenvolvimento tropical?
C.N. - Claro. Apesar de sua riqueza natural, o valor econômico da região amazônica é pouquíssimo explorado. O modelo de desenvolvimento deve basear-se fundamentalmente na exploração econômica e sustentável da biodiversidade da floresta.
P.S. - Por onde começou?
C.N. - Industrializando e globalizando os produtos amazônicos. O Brasil tem uma área plantada de soja quase 3 vezes maior que a da Argentina, mas nosso vizinho obtém o mesmo lucro nas exportações porque exporta o óleo e soja e nós apenas os grãos. Se continuarmos a ser apenas grandes plantadores de cana, produtores de soja ou exploradores de minério de ferro para exportar tudo isso in natura não chegaremos lá.
P.S. - O sr. propõe globalizar a Amazônia?
C.N. - O que proponho é a necessidade de implementar o que eu chamo de globalização dos produtos da biodiversidade da nossa floresta. Já temos hoje alguns deles como o açaí, cupuaçu e a castanha-do-brasil, mas há muito mais. Produtos com grande potencial para serem globalizados são toda a fruticultura nativa, todos os óleos e uma série de fitoterápicos. Sem contar que podem existir, nessa rica biodiversidade, fármacos ainda não descobertos que levem à cura de muitas doenças.
P.S. - Nesse caso, seria preciso proteger a Amazônia do desmatamento.
C.N. - É preciso proteger a Amazônia por tudo que ela tem de potencial. A globalização seria também uma base para a geração de empregos para população rural da floresta. É um outro modelo econômico que não esteja baseado única e exclusivamente na pecuária e na soja.
P.S. - Mas a distância não pode inviabilizar esse desenvolvimento?
C.N. - Realmente as distâncias são muito grandes em relação aos mercados consumidores, por isso é necessário agregar valor aos produtos para que eles sejam rentáveis. É preciso ter indústrias locais nas pequenas e médias cidades amazônicas que processem os produtos da biodiversidade. Assim consegue-se gerar bons empregos e renda às populações rurais.
P.S. - Como fazer isso?
C.N. - Temos uma comunidade tecnológica e científica sofisticada. É preciso usar essas potencialidades para, a partir de nossa vantagem comparativa em relação aos recursos naturais, alavancar o desenvolvimento do país. Recentemente, a Academia Brasileira de Ciências propôs a criação das universidades da floresta e institutos de tecnologia da Amazônia que estabeleçam uma revolução científica e tecnológica na região para criar os recursos humanos e as soluções sustentáveis.
P.S. - O Sr. acredita que o empresário brasileiro tem essa mesma visão?
C.N. - Sim, temos empresários modernos, audaciosos e inovadores em muitas regiões do Brasil. Eles podem enxergar o Brasil como país tropical e entender como vantagem comparativa a sua riqueza natural – não só os minérios, mas também os recursos renováveis – para explorar ao máximo esse potencial de forma sustentável.
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Carlos Nobre, engenheiro eletrônico pelo ITA, doutor em meteorologia pelo MIT com pós-doutoramento na Universidade de Maryland, EUA, é pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Foi um dos arquitetos do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA) e diretor do CPTEC/INPE de 1991 a 2003. Tem dedicado sua carreira científica à Amazônia e desenvolveu pesquisas pioneiras sobre os impactos climáticos do desmatamento.
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